Créditos: Tribuna do Norte
Foto: Elisa Elsie
Jocekleyton Ramalho da Silva, de 18 anos, é um rapaz tranquilo. Fala baixo e pausadamente, de forma concisa, mas eloquente. Por conta dessas e de outras características, ele não tremeu a voz e nem se alterou quando recebeu a notícia de que era o primeiro colocado no curso mais concorrido do vestibular da UFRN: Medicina. A reação pode parecer estranha, mas apenas para quem não conhece Jocekleyton e sua história: nascido e criado no seio de uma família humilde, ele decidiu há muito tempo que passaria em Medicina. E assim conseguiu.
O telefonema que ontem comunicou a boa nova, após anos de planos e sonhos, foi o final perfeito para a história da família Ramalho. Uma história que começou com Jocélio, irmão de Jocekleyton, de 22 anos, três deles dedicados ao curso de Medicina. Sim, a família Ramalho tem dois futuros médicos, mas não se trata de uma coincidência. Morando numa casa humilde do bairro do Bom Pastor, os dois irmãos iniciaram a vida escolar no Instituto Ary Parreiras, escola do Alecrim ligada à Marinha, com determinação. Assim como Jocekleyton, Jocélio passou para o IFRN nos primeiros lugares. Os dois cursaram o curso de informática do antigo Cefet. E agora os dois são acadêmicos de Medicina. Alguma coisa aí foge à normalidade.
Quando se pensa em dois irmãos de origem humilde nos bancos do curso de mais status da sociedade atual, o incomum da situação aponta necessariamente para José Ramalho, 52, e Maria Lenira, 44. Os pais de Jocekleyton e Jocélio. Seu “Zé” Ramalho é conferente nas Lojas Clã, enquanto Maria Lenira é funcionária pública municipal. O relato de José Ramalho dá uma ideia do que estamos falando.
“Eu estudei alguma coisa, não tanto quanto queria, mas gostava de estudar. Sempre fiz questão que eles estudassem, fiz de tudo, cheguei até a me endividar, e eles sempre foram muito obedientes. Consegui ensinar e ajudar na lição de casa até o Fundamental, porque depois era demais pra mim. Eles já sabiam mais do que eu”, conta.
De uma maneira quase mágica, essa consciência de que a educação é o caminho a ser seguido foi absorvida de forma radical pelos dois irmãos. Seu Zé Ramalho conta que nunca precisou mandar nenhum dos dois estudar. Pelo contrário. “Numa dessas reuniões, os professores me disseram para pedir pra Jocekleyton estudar menos, que não era preciso estudar tanto pra passar no vestibular”, diz. A rotina de estudos era seguida de forma religiosa: 12 horas de aula, mais três de estudo em casa. Às vezes, até mais. No caminho, troféus: primeiro lugar na Olimpíada de História, bronze na Olimpíada de Matemática, entre outros.
A determinação, contam os amigos de infância, interferia inclusive na hora da diversão. Jocekleyton, assim como Jocélio, se acostumou com um dia a dia com mais livros do que peladas na rua ou jogos de computador. “Nem adiantava chamar eles dois pra brincar ou se divertir no horário de estudo. Eles dois são assim, muito tranquilos, não gostam muito de farra, sempre pensando no futuro”, conta Alexsandro Soares.
Mesmo com a privação, eles não parecem se arrepender. Muito menos Jocekleyton, que colhe agora o seu momento de glória. Momento que se desdobra em emoção ao entrar em casa, e olhar pela primeira vez nos olhos dos pais após o resultado do vestibular.
Dessa vez, Jocekleyton, calmo, tranquilo, impertubável, se emociona de fato, junto de seu pai e sua mãe. No seu rosto, rolam algumas poucas lágrimas, contidas e determinadas, assim como ele.
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