26 de novembro de 2010

Entenda a onda de ataques no Rio de Janeiro

21:36 | , ,

Créditos: Folha Online
Foto: Sérgio Moraes (Reuters / Folha Online)
Desde o dia 21 de novembro, ataques e incêndios em veículos assustam motoristas e moradores do Rio. Para as autoridades de segurança, as ações são uma retaliação dos traficantes contra a instalação das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) nos morros e favelas.

Criadas há dois anos, as UPPs são centros de ocupação permanente da Polícia Militar instalados em favelas antes controladas por traficantes de drogas ou integrantes de milícias.

Um dia após o início dos ataques, o governador do Rio, Sérgio Cabral Filho (PMDB), e o secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, ligaram a série de ataques à política de ocupação de favelas e à transferência de detentos para presídios federais. Beltrame já não descartava mais ataques de "traficantes emburrados" e afirmou que o Rio não mudaria sua política de segurança pública.

Na ocasião, o comandante-geral da PM atribuiu a onda de violência a uma ação orquestrada por uma única facção criminosa. Os serviços de inteligência da polícia, porém, interceptaram conversas entre traficantes do Comando Vermelho e da ADA (Amigo dos Amigos) que indicavam uma união entre as facções rivais para uma mega-ação de confronto no dia 27.

O policiamento nas ruas foi reforçado, com os policiais colocados em estado de alerta - Férias e folgas foram suspensas.

Na quarta-feira (24), um grupo de criminosos que ateou fogo a um ônibus em Vicente de Carvalho (zona norte do Rio) deixou um recado em um bilhete para a polícia: "se continuar as UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) não vai ter Copa e nem Olimpíadas". A polícia disse que o aviso foi deixado no veículo e que seria uma forma de "intimidar" as autoridades.

As primeiras operações deflagradas para impedir o confronto e coibir os ataques a veículos provocaram mortes de civis e suspeitos. Uma das vítimas foi a estudante Rosângela Barbosa Alves, 14, baleada durante confronto entre PM e traficantes na Vila Cruzeiro, na Penha, zona norte do Rio. Atingida nas costas, a menina chegou a ser levada a um hospital, mas não resistiu.

Ainda na quarta-feira, o governador do Rio pediu ajuda à Marinha brasileira. No dia seguinte, carros blindados participaram das operações, concentradas na zona norte.

Na quinta-feira (25), 5º dia de ataques, policiais civis e militares, usando veículos da Marinha e também o Caveirão, ocuparam a Vila Cruzeiro, provocando a fuga de criminosos para o conjunto de favelas vizinho, o Complexo do Alemão.

Após a operação, o subchefe operacional da Polícia Civil do Rio, Rodrigo de Oliveira, disse que a favela voltava ao controle do Estado.

O secretário Beltrame disse que a polícia permaneceria no local. "Não vamos sair da Vila Cruzeiro. É importante prender essas pessoas, mas é mais importante tirar território. Ações de repressão como as de hoje são importantes como parte de um projeto maior que é a retomada de território pelo Estado", disse.

À noite, foram anunciados mais reforços para as operações: 300 agentes da Polícia Federal e 800 homens do Exército. O Ministério da Defesa também autorizou o envio de dois helicópteros, dez veículos blindados de transporte, equipamentos de comunicação e óculos para visão noturna.

Na manhã de sexta-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva prometeu toda a ajuda possível às autoridades do Rio nas operações. "Eu disse ao Sérgio Cabral que o governo federal ajudará no que precisar para que as pessoas de bem vivam em paz no país", disse à imprensa em Georgetown, capital da Guiana.

A cúpula da Segurança Pública do Rio informou que a retomada do Complexo do Alemão foi planejada em duas operações diferentes. Uma, sob o comando do governo do Estado, consiste nas incursões das polícias Militar e Civil, com o apoio logístico das Forças Armadas --ou seja, uso de blindados do Exército e da Marinha e helicópteros da Aeronáutica.

A segunda se resumiria em operações de patrulhamento nos cerca de 40 acessos aos morros, sendo chefiada pelo Comando Militar do Leste. Questionado sobre a possibilidade de confronto entre militares e criminosos, o general Adriano Pereira Júnior, comandante Militar do Leste, afirmou que, caso houvesse troca de tiros, "infelizmente vamos ter que partir pra isso".

O confronto não demorou, e os militares foram recebidos a tiros na avenida Itararé, um dos principais acessos ao Complexo do Alemão. Militares, suspeitos e civis ficaram feridos - entre eles um fotógrafo da agência de notícias Reuters.

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