11 de outubro de 2010

Com o tri, Bernardinho fecha década de glórias: ‘Mais do que eu merecia’

10:48 | , , ,

Créditos: Globoesporte.com
Foto: Globoesporte.com
Há exatos nove anos, quatro meses e 29 dias, Bernardo Rocha de Rezende sentou-se à beira da quadra e, pela primeira vez, emprestou seu estilo enérgico à seleção masculina de vôlei. Era a estreia do Brasil na Liga Mundial de 2001, na Holanda, uma vitória dramática sobre os donos da casa no tie-break. Naquela noite, não havia muletas por perto. O técnico estava livre para pular, correr, gritar, morder a bola e, principalmente, injetar na equipe verde-amarela sua obsessão pelo perfeccionismo. Naquele dia, em Groningen, Bernardinho não imaginava que, ao longo da década seguinte, rechearia seu currículo com troféus e medalhas de todas as espécies. Neste domingo, abriu espaço para uma conquista que nenhum colega de profissão tem: o tricampeonato mundial.

- Trabalho pensando sempre na próxima competição. É assim que eu funciono. Se eu imaginava conquistar tudo o que conquistei? Não imaginava. Talvez tenha vencido mais do que merecia - afirmou o comandante após a conquista deste domingo.

Foi com a cara do técnico que o Brasil conquistou um ouro e uma prata em Olimpíadas, oito títulos da Liga Mundial, dois da Copa do Mundo e dois da Copa dos Campeões e os três Mundiais em 2002, 2006 e 2010. Este último veio contra tudo e todos, na Arena de Roma, coroando uma campanha cheia de percalços. Inclusive para o próprio treinador, que se viu limitado por um par de muletas após uma cirurgia no pé esquerdo.

A bota “Robocop” limitou a movimentação à beira da quadra, mas não impediu o técnico de levar o Brasil a mais uma conquista. Os exageros à beira da quadra tiveram de ser substituídos por gestos e gritos, caras e bocas. E não foram poucas.

Em Verona, ainda na primeira fase do Mundial, Bernardinho estava nitidamente desconfortável. Acostumado com a liberdade de pular e andar, via-se preso a uma cadeira posicionada especialmente para ele ao lado da comissão técnica. Mas se a perna não lhe deixava ficar de pé, as mãos ganharam novas funções. As mesmas mãos do levantador que, em 1984, ajudaram a seleção brasileira a conquistar a medalha de prata nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, agora se transformaram na válvula de escape para empurrar a nova geração.

Na cidade de Ancona, já na segunda fase, as dificuldades físicas ganharam companhia: a crítica moral. Após o “jogo da vergonha”, contra a Bulgária, cresceram os ataques da imprensa italiana e a hostilidade dos donos da casa. De olho em um caminho mais tranquilo, o Brasil entrou com Theo de levantador, poupou Murilo. Perdeu, avançou e mergulhou em desconfiança. A postura da seleção virou manchete de jornal: “escândalo”, “palhaçada”, “vergonha”. No ginásio, o técnico foi agraciado com faixas que lhe chamavam de covarde.

- Eu já esperava por essa reação. Todos são contra o Brasil - disse o comandante, sem esconder o abatimento com toda a polêmica.

A resposta tinha de vir na bola. Na semifinal contra os italianos, Bernardinho já conseguia ficar sem as muletas e a bota nos treinos. Tentava não polemizar e deixava o confronto para os comandados. Mencionava uma restrição velada com dificuldades impostas pela organização italiana, mas não comentava a suposta “sabotagem”. A carga de revolta do treinador já tinha dado as caras antes mesmo do campeonato, no embarque para a Europa, quando argumentou que o regulamento era favorável aos donos da casa.

Covarde? Bernardinho mostrou o contrário em quadra. Derrubou a Itália sem piedade na semi e fez o mesmo com Cuba na decisão. Cobrou Leandro Vissotto durante todo o Mundial para vê-lo brilhar nas duas últimas partidas. Fez parecido com Marlon, controlando o ímpeto do levantador, que insistia em jogar mesmo com uma inflamação no intestino. Coisa de quem conhece o grupo que tem em mãos. Coisa de quem se acostumou, como nenhum outro técnico do vôlei mundial, a levar seu país ao alto do pódio.

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