8 de março de 2010

Celebração do Dia da Mulher completa 100 anos

13:36 | , , ,

Em 1910, foi instituído o Dia da Mulher, 8 de março. Cem anos depois, ainda há muito pelo que lutar, segundo especialistas ouvidas pela UnB Agência. “No imaginário social de hoje, as mulheres persistem inexistentes na memória histórica, em termos de poder, criação, ação. Apenas com a história social das mulheres, desenvolvida pelas feministas, é que se percebe o imenso abismo onde foram jogadas as mulheres, para melhor desaparecerem", afirma a professora Tânia Navarro Swain, do Departamento de História da UnB.

"Encontramos artistas, poetas, escritoras, pintoras, musicistas, rainhas, suseranas, guerreiras, que foram simplesmente apagadas da história e da memória social”, lembra. A professora Tânia Montoro, da Faculdade de Comunicação, complementa: “Conhecemos muito pouco as nossas cientistas mulheres. A ciência também foi feita de descobertas femininas”.

Para comemorar os 100 anos do Dia Internacional da Mulher, o Decanato de Extensão (DEX) da UnB e os departamentos de Saúde Coletiva e de Enfermagem promovem palestra da professora Daphne Rattner, que fará um panorama histórico das lutas e conquistas das mulheres no último século. A iniciativa tem o apoio da Rede pela Humanização do Parto e do Nascimento (ReHuna) e do grupo Ciranda de Mulheres. Na ocasião, também será exibido o vídeo Prazer no Parto (veja lateral).

Daphne explica a importância de trazer o debate sobre as questões de gênero para o ambiente acadêmico: “Em primeiro lugar, as mulheres são maioria na universidade. É importante conhecer a história de lutas e conquistas femininas para perceber que há muito o que comemorar", diz. "Considero que se vive numa época privilegiada para ser mulher. Ainda há diferenças, mas há muitas conquistas que não podem passar em branco”.

Ditadura do Corpo: Para a pesquisadora Tânia Fontenele, um dos desafios a serem enfrentados é a cobrança social em relação à estética das mulheres. Ela explica que essa preocupação está além do corpo e da saúde. “Lamento isso porque num país tão diverso como o nosso, o padrão de beleza é pesar 45 kg, ter o cabelo loiro e liso, olhos azuis. É um padrão cruel e limitante”, reclama.

Tânia Montoro acredita que os meios de comunicação ainda são muito machistas. “Ao invés da ditadura do patricarcado, vivemos a ditadura do corpo. Num país de multiculturalismos racial e genético, o padrão de beleza deixa de fora negras, indígenas, imigrantes e qualquer outra mulher que não tiver esse padrão”, explica. Ela diz que as indústrias farmacêutica, de cosméticos e cultural promovem um excessivo consumo da beleza, criando mulheres com problemas como bulimia, anorexia e depressão profunda. E aponta a ausência da mulher madura, com mais de 50 anos, nos meios de comunicação. “É como se a função social da mulher acabasse com o fim da fase reprodutora”, diz.

Violência: Ana Liési Thurler, doutora em Sociologia pela UnB, acredita que as relações de gênero ainda determinam a condição da mulher na sociedade atual. “A violência não é um detalhe na história da mulher, é um marcador nas relações de gênero”. Helenice Gama Dias de Lima, psicóloga do 1º Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, conta que a violência contra a mulher é real e sempre existiu. A diferença é a punição ao agressor. “Hoje, a violência é crime. A minha experiência tem me mostrado que as mulheres estão mais encorajadas a denunciar. Antes o agressor não sentia a ressonância do ato dele”, explica.

“A violência contra as mulheres só diminui na medida da conscientização e da resistência dos movimentos das mulheres, das feministas, daquelas que não aceitam a dominação da metade da população pela outra metade, pela simples representação social de inferioridade que é marca da definição das mulheres enquanto tais”, explica Tânia Navarro. “O século XXI tem um caminho enorme a ser percorrido para que as mulheres deixem de ser cidadãs de segunda classe ou vistas apenas como carne a ser consumida, com parâmetros bem definidos de beleza e disponibilidade”.

0 comentários: