6 de junho de 2011

Buracos custam caro!

11:45 | , ,

Créditos: Tribuna do Norte

Foto: Adriano Abreu (Tribuna do Norte)
Não há mais trocadilhos poéticos, apelidos ou rimas que consigam mensurar a quantidade de buracos em Natal atualmente. Em todas as zonas da cidade, é possível encontrar verdadeiras crateras. Nos dias de chuva, cobertos pelas  poças que se formam no seu entorno, causam prejuízos e acidentes. Mas os problemas não se resumem aos dias nebulosos. Quando o sol ilumina o asfalto é possível perceber a dimensão do estrago. Nas oficinas, a procura por manutenções de veículos aumentou. O lucro dos empresários é inversamente proporcional à indignação dos proprietários de veículos.

A aposentada Inês Lago, deixou a oficina da concessionária na qual comprou um veículo há cerca de três anos com um questionamento cujo destinatário tem endereço conhecido, o Palácio Felipe Camarão. Imaginando que iria gastar aproximadamente R$ 900 com a revisão e manutenção periódica, ela foi surpreendida. "Quando suspenderam meu carro, o mecânico observou que as buchas da bandeja do amortecedor necessitavam ser substituídas", relatou. Com a indesejada novidade, Inês precisou fazer um desembolso extra de mais de R$ 600.

Com desconto, os custos na oficina foram fechados em R$ 1.500. "O pior de tudo é que a gente não consegue visualizar determinados problemas. O prejuízo é grande. Além disso, o risco de acidentes nesta cidade esburacada é cada vez maior. E quem paga por tudo isso? Somos nós, trabalhadores", desabafou Inês.

A gerente de oficina da Concessionária Nacional, Geisa Santana, afirmou que o fluxo de veículos em manutenção aumentou muito nos últimos meses. "Os clientes reclamam muito do barulho. Tem veículos novos, zero quilômetro, que precisam ser alinhados novamente em 15 dias", comentou Geisa. Por dia, entre 30 e 40 veículos realizam serviços de alinhamento e balanceamento. No final do mês, são cerca de 1.200 carros revisados em apenas uma das oficinas espalhadas por toda Natal.

Da zona Norte a zona Sul, donos de veículos, motoristas de caminhões e ônibus, além dos pedestres, reclamam em uníssono: "Está impossível trafegar com segurança e comodidade por Natal". Das janelas dos ônibus, os passageiros  relatam os solavancos e insegurança. O dedo polegar de um motorista que trafegava na avenida Bom Pastor, no bairro de mesmo nome, sinalizava negativamente o estado das vias urbanas. O gesto traduz o que pensa quem necessita se locomover diariamente em Natal.

O mecânico especialista em alinhamento e balanceamento, Miguel Soares, explica que a maioria dos veículos chegam desalinhados. "Além disso, a distância entre o pneu e a caixa de roda é outro caso comum causado pelos impactos. Há também a mudança de ângulo do pneu", disse. Para solucionar o último problema é preciso realizar o serviço de cambagem que custa, em média, R$ 100. O mecânico faz uma ressalva importante, que pode diminuir o risco de maiores prejuízos. "Tão importante quanto realizar o alinhamento quando necessário, é calibrar os pneus toda semana".

Os titulares da Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana (Semob), Ana Elizabeth Thé Bonifácio, e da Secretaria Municipal de Obras Públicas e Infraestrutura (Semopi), Dâmocles Trinta, foram procurados pela reportagem da Tribuna do Norte para responder a questionamentos acerca dos problemas denunciados. A assessoria de imprensa do Município informou que ambos estavam em reuniões em Brasília, impossibilitados de atender ao telefone.

Enquanto as possibilidades de solução para este problema não são divulgadas pelos responsáveis, resta aos motoristas livrar de um buraco maior para cair num menor. Uma solução possível - e utópica - para enfrentar o caótico estado das vias públicas foi dada por um motorista de ônibus: "Ou a gente voa ou os veículos deverão sair com asas embutidas das fábricas para serem utilizadas em Natal".

Vias não possuem manutenção: A ocorrência de buracos nas vias urbanas não se restringem às avenidas de maior circulação. Os problemas, porém, são mais visíveis nas áreas de maior tráfego de veículos como as avenidas Felizardo Moura (que liga as Quintas à zona Norte), Avenida Doutor Mário Negócio, Avenida Bernardo Vieira, Avenida do Bom Pastor, Avenida Paulistana. Eles estão em todo lugar, da zona Sul à zona Norte, sem discriminar nenhuma classe social.

Visando conter o avanço dos buracos, o Município chegou a recapear a Avenida Felizardo Moura seis vezes somente em 2010. Hoje, a situação asfáltica da via revela a ineficiência da operação. A Prefeitura de Natal culpa a Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte (Caern) por abrir buracos e não fecha-los.

Na última segunda-feira, por exemplo, nenhum caminhão da operação tapa-buracos da Prefeitura foi visto pelos bairros percorridos pela equipe de reportagem. Enquanto que no Alecrim, um funcionário prestador de serviços da Caern, realizava a limpeza de um orifício aberto pela Companhia para procedimentos de manutenção na rede de esgotos para que pudesse receber a camada de asfalto.

As informações do gerente de operações da Regional Sul da Caern, Lamarcos Teixeira, põem em xeque o discurso do Executivo Municipal. De janeiro a abril de 2011, a Companhia realizou 783 serviços de recuperação asfáltica nas zonas com maiores operações de manutenção (Sul, Leste e Oeste). "Durante o período chuvoso, a Caern reduziu os serviços de recuperação das vias. O trabalho foi retomado há duas semanas e irá se intensificar até julho", afirmou Lamarcos.

Para recompor o asfalto, a Companhia efetuou a compra de asfalto ecológico - feito a partir de materiais recicláveis - que é de fácil absorção e secagem rápida. O uso foi aprovado em experiências realizadas nas vias desde o início deste ano.

Vários tipos de asfaltos são utilizados nas vias: Dentro da engenharia rodoviária, cada tipo de asfalto se destina a um fim. Por exemplo: o Asfalto Diluído de Petróleo - ADP é utilizado para a imprimação (impermeabilização) da base dos  pavimentos. Por outro lado, o Cimento Asfáltico de Petróleo - CAP e as emulsões asfálticas são constituintes das camadas de rolamento das rodovias, de maneira que o CAP entra como constituinte dos revestimentos asfálticos de alto padrão como o CBUQ - Concreto Betuminoso Usinado a Quente - ao passo que as emulsões asfálticas são constituintes dos revestimentos de médio e baixo padrão, como os pré-misturados a frio e a quente (PMF e PMQ) e os tratamentos superficiais, as lamas asfálticas e microasfalto.

A rua Correia Teles, no centro da cidade, faz parte da lista de obras malfeitas na operação tapa-buracos executada pela prefeitura. Cabe ressaltar que a adoção de um revestimento de alto, médio ou baixo padrão leva em conta aspectos como: número e tipo de veículos pesados que transitam/transitarão na rodovia; vida útil adotada para o pavimento; disponibilidade de material; composição das camadas inferiores do pavimento, dentre outros. A análise foi feita pelo engenheiro civil e especialista em tráfego, Otacílio França.

Embora em larga utilização no Brasil, o asfalto como solução para as rodovias em regiões tropicais não é ideal, devido ao intenso intemperismo destas regiões. Rodovias com superfície de concreto são mais resistentes às intensas variações diurnas de temperatura e umidade características do clima tropical. As recentes obras de duplicação da BR-101 já utilizaram o concreto ao invés do asfalto.

De acordo com o secretário adjunto da Semob, Haroldo Maia, seis das vias mais movimentadas de Natal poderão receber este tipo de revestimento. Tudo depende, porém, da aprovação dos projetos no Plano de Aceleração do Crescimento 2 (PAC 2 - Grandes Cidades - Mobilidade).

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