Muito bem, caro leitor... Novamente volta a tona a discussão sobre a eficácia do Exame Nacional do Ensino Médio, com a publicação, pelo Ministério da Educação, dos resultados da edição passada. Por isso, iremos postar hoje um artigo publicado no site do jornal "O Estado de S. Paulo" que fala sobre esses resultados. A autora é Ilona Becskeházy, da Fundação Lemann. Boa leitura!
Créditos: O Estado de S. Paulo
Foto: Jornal "A Crítica" (AM) |
Uma das poucas quebras de paradigma que ocorreram na educação brasileira na última década foi a incorporação de indicadores educacionais ao interesse do grande público. Continuamos com uma educação de muito baixa qualidade e desigual, mas pelo menos a consciência a respeito dessas dificuldades parece estar mais clara por causa das informações obtidas por avaliações externas.
Da mesma maneira que aprendemos a entender nossos níveis de colesterol separando a gordura "boa" da gordura "ruim" e a proporção entre elas, os indicadores de educação devem ser compreendidos pelos seus componentes e não apenas pela ponta do iceberg em que se transformaram. Por consequência, qualquer decisão educacional séria deve levar em conta fatores adicionais aos valores de desempenho e os possíveis rankings, exatamente como fazem nossos médicos no caso do colesterol alto.
O problema é que, assim como fabricantes de margarina capturam o indicador do colesterol para vender mais, as escolas particulares capturaram o Enem para suas ações de marketing. O Enem foi concebido inicialmente para ser uma avaliação voluntária e individual do aluno que concluísse o ensino médio. Aos poucos ele foi sendo modificado e passou a ser referência de qualidade de escolas, depois de redes de ensino e agora é parte importante do sistema de seleção para o ensino superior.
Por mais que seja interessante um sistema nacional de seleção para o ensino superior, a pressa com que o MEC direcionou todas as energias para reformular o Enem, em detrimento de uma melhor concepção do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), por exemplo, é mais um exemplo de como colocar o governo a serviço da classe média em detrimento do interesse da população em geral.
Em novembro de 2009 os alunos do ensino fundamental fizeram a Prova Brasil e preencheram os questionários de contexto que a complementam. Estamos quase em novembro de 2011 e ainda não temos os microdados para poder levar melhor gestão pedagógica às escolas ou para embasar importantes pesquisas para subsidiar políticas públicas. O Ideb seria infinitamente melhor se, pelo menos, incorporasse as faltas dos alunos que não fizeram as provas no seu cálculo, como está sendo feito agora com o Enem.
Se apenas 50% de nossos jovens (de 25 a 34 anos) terminam o ensino médio e só 11% vão para o ensino superior, a importância de um Enem reformado claramente atende a um grupo particular da sociedade. A maior contribuição do Enem como política pública seria a de servir como certificação de conclusão de ensino médio para quem tiver mais de 18 anos e alcançar uma nota mínima, mas com tantas mexidas recentes, até isso fica comprometido. Mais urgente que calibrar o Enem é ter dados detalhados sobre a educação fundamental para que achemos as fórmulas para conseguir que todos os jovens tenham, no mínimo, 12 anos de escolaridade. O MEC poderia ter feito isto antes, ou tomar esta providência logo.
E fica a dica para os pais que estão tentados a usar o Enem como principal indicador de qualidade para escolher a escola dos filhos: este indicador não é o reflexo da qualidade de uma escola. Visitas, conversas com outros pais e uma boa investigação dos métodos pedagógicos ainda são a melhor forma de saber se uma escola é realmente boa e adequada para o perfil de sua família.
Da mesma maneira que aprendemos a entender nossos níveis de colesterol separando a gordura "boa" da gordura "ruim" e a proporção entre elas, os indicadores de educação devem ser compreendidos pelos seus componentes e não apenas pela ponta do iceberg em que se transformaram. Por consequência, qualquer decisão educacional séria deve levar em conta fatores adicionais aos valores de desempenho e os possíveis rankings, exatamente como fazem nossos médicos no caso do colesterol alto.
O problema é que, assim como fabricantes de margarina capturam o indicador do colesterol para vender mais, as escolas particulares capturaram o Enem para suas ações de marketing. O Enem foi concebido inicialmente para ser uma avaliação voluntária e individual do aluno que concluísse o ensino médio. Aos poucos ele foi sendo modificado e passou a ser referência de qualidade de escolas, depois de redes de ensino e agora é parte importante do sistema de seleção para o ensino superior.
Por mais que seja interessante um sistema nacional de seleção para o ensino superior, a pressa com que o MEC direcionou todas as energias para reformular o Enem, em detrimento de uma melhor concepção do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), por exemplo, é mais um exemplo de como colocar o governo a serviço da classe média em detrimento do interesse da população em geral.
Em novembro de 2009 os alunos do ensino fundamental fizeram a Prova Brasil e preencheram os questionários de contexto que a complementam. Estamos quase em novembro de 2011 e ainda não temos os microdados para poder levar melhor gestão pedagógica às escolas ou para embasar importantes pesquisas para subsidiar políticas públicas. O Ideb seria infinitamente melhor se, pelo menos, incorporasse as faltas dos alunos que não fizeram as provas no seu cálculo, como está sendo feito agora com o Enem.
Se apenas 50% de nossos jovens (de 25 a 34 anos) terminam o ensino médio e só 11% vão para o ensino superior, a importância de um Enem reformado claramente atende a um grupo particular da sociedade. A maior contribuição do Enem como política pública seria a de servir como certificação de conclusão de ensino médio para quem tiver mais de 18 anos e alcançar uma nota mínima, mas com tantas mexidas recentes, até isso fica comprometido. Mais urgente que calibrar o Enem é ter dados detalhados sobre a educação fundamental para que achemos as fórmulas para conseguir que todos os jovens tenham, no mínimo, 12 anos de escolaridade. O MEC poderia ter feito isto antes, ou tomar esta providência logo.
E fica a dica para os pais que estão tentados a usar o Enem como principal indicador de qualidade para escolher a escola dos filhos: este indicador não é o reflexo da qualidade de uma escola. Visitas, conversas com outros pais e uma boa investigação dos métodos pedagógicos ainda são a melhor forma de saber se uma escola é realmente boa e adequada para o perfil de sua família.
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